segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Quando somos bem vindos...


Quando somos bem vindos...
  

O ser humano é uma criatura contraditória pela sua natureza e habilidades, como afirmam uns, dadas por deus. Na verdade, pouco importa, para a maioria, por que conseguimos ser tão engenhosos, principalmente quando o assunto se refere ao outro. Temos uma inteligência espetacular e, por isso, somos capazes das mais magníficas invenções como também das piores atrocidades. O que importa realmente ou deveria interessar seriam as relações que construímos entre nós. Mas, nestas relações desmistificamos saberes, sempre um tanto polêmicos, e por mais que intelectuais tentem esclarecer fatos ou questões escrevendo e palestrando, sempre existirão divergências obscuras que insistem em rondar nossas vidas e a nos aterrorizar.

Escritores, temos muitos e honrados, mas não fazemos grande progresso ao escrevermos “difícil”, pois escrevemos apenas para uns poucos, o que precisamos é realmente nos comunicar com as pessoas que nem sempre leram um livro sequer em sua longa e conflituosa temporada pela Terra. Nem sempre podemos culpá-los também e disso sabemos. Existem circunstâncias e mais circunstâncias, sejam religiosas, políticas ou econômicas, com interpretações diversas para garantir que informações sejam dissimuladas ao sabor praticamente individual. Afinal, o capitalismo sobrevive graças a essa habilidade não dada por deus, certamente.

Mesmo assim, tem quem se negue a apreender tal capacidade e tente em vão “tirar do sono” mentes alienadas para incomodá-las nas noites mais tranquilas de suas vidas. Mulheres e homens propagam ideias em que demonstram habilidades irracionais que contrariam a essência que se difunde a respeito da existência de um ser superior originalmente bom. E quando pensamos nos imprevistos ou previstos aos quais nos expomos, como a explosão de mais uma vida desejada ou inesperada neste planeta, as línguas malvadas começam a trabalhar.

Conforme o livro consagrado, foi Eva quem ofereceu a fruta a Adão que pecou não por culpa dele, mas de sua amada companheira. Parece-nos bastante familiar o significado destas palavras no país em que vivemos. Já em países considerados de primeiro mundo, como Estados Unidos, Alemanha, Grécia, Itália, Austrália, entre tantos outros; a interrupção do feto pode ser realizada até a décima segunda semana da gestação, a pedido da mulher. No entanto, no Brasil, a legislação é mais rigorosa porque o aborto só é permitido “...legal em casos de risco de vida, gravidez resultante de estupro e anencefalia fetal, e proibido em todos os demais casos”. Mas será que podemos considerar isso um avanço ou um atraso?

Sem dúvida alguma, depende da circunstância, aliás, penso que de todas as circunstâncias. Neste caso, a primeira, inquestionavelmente é a necessidade pessoal para que cada um possa se manter vivo e confiante neste mundo e, a segunda e a terceira, direta ou indiretamente, para que governos e demais líderes possam também se manter vivos e recompensados. Como escreve e canta Caetano Veloso “ e na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado/...plano de educação que parece fácil/...e o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto/e nenhum, no marginal”; parece-nos uma contradição toda essa discussão. No entanto, mesmo sendo polêmico demais, temos que ler, escrever e refletir sobre isso e sobre tantos outros assuntos que provocam mal estar, principalmente entre os grandes chefes; ainda que os resultados dessas tensões nos deixem mal também.

Todavia, o fator principal neste texto ainda não é a legalização do aborto, e sim, uma questão anterior a este. Frequentemente ouvimos e lemos a história de um bebê encontrado no lixo e, imediatamente, as autoridades locais se mobilizam para encontrar a mãe por meio do exame DNA para que possa ser punida conforme a legislação vigente em nosso país. A indignação diante disso não é a punição que a mãe sofrerá, pois independentemente da circunstância, existem outras saídas, porém tenho certeza absoluta que um bebê de proveta jamais será abandonado. Ou será que não se consegue descobrir a paternidade da mesma maneira que a maternidade e nem mesmo de outra?

Lamentavelmente, penso que quando uma mãe abandona um filho, este já o foi também pelo pai. Aliás, neste caso, o pai já fez um aborto (genético) quando ele “corta o cordão umbilical” antes do nascimento e comete outro aborto (social) quando se exime da responsabilidade afetiva, financeira e, portanto do sustento e da educação como um todo. Mas a lei não é para o homem, talvez por ainda pensarmos que quem oferece a maçã é sempre a Eva e seu amado ingenuamente a degusta e, por ser tão inocente não consegue saber que frutas dão sementes e que sementes podem brotar e ... explodir em vidas! Então, cadeia para as frutas Evas brasileiras, pois conforme o Código Penal Brasileiro, em vigor desde 1984, a detenção será de “um a quatro anos, em caso de aborto com o consentimento da mulher, e de três a dez anos para quem o fizer sem consentimento”. E para o pai? Bem, este não tem nada a ver com a história de seu filho ...

E enquanto assim for, nós, mulheres, temos uma tarefa importante neste mundo: cuidar quando e em que condições nos tornamos mães, pois as responsabilidades ainda são muito árduas e só nossas. O pai pode negar e abandonar a criança, mas a mãe, jamais. Se esta não assume a criança é considerada prostituta, irresponsável e outros chamamentos mais grosseiros que estes. O pai já não sofre julgamento algum por parte de alheios. Embora tímidas e lentas mudanças estejam ocorrendo no que diz respeito à paternidade, ainda que ineficientes, são importantes porque alimentam esperanças.

Desse modo, sabendo que a responsabilidade maior pela educação do filho cabe às mães, mesmo nos casos em que a mulher cumpre a mesma jornada que o homem fora de casa, então talvez seja fundamental que comecemos a pensar antes de continuar propagando ideias envelhecidas como essas porque mais tarde, os meninos se tornarão estes homens de quem estamos falando hoje. Com certeza, essa é uma polêmica nada fácil se ser discutida, pois está carregada de valores e costumes milenares. Trazer essa conversa para sala de aula e oferecer acompanhamento psicológico aos pais também, pode, com certeza, amenizar os efeitos colaterais inerentes à questão aqui tratada.

Iliane Teresinha Müller

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